Exercício: Fazer ou não fazer, eis a questão!
Pergunta ao Dr. Richard Bruno, especialista em Poliomielite e Síndrome Pós Pólio: Li que você não recomenda exercícios para sobreviventes da poliomielite que estão ficando mais fracos. Mas se eu parar de me exercitar e não fizer nada, não vou perder tônus muscular, ficar flácido, descondicionado e ainda mais fraco?
Resposta Dr. Bruno:
Você está fazendo uma boa pergunta, mas está usando jargões que usam em infocomerciais. É vital que os sobreviventes da poliomielite entendam o que as pesquisas realmente dizem sobre exercícios para músculos recentemente enfraquecidos e conheçam as definições de “tônus muscular” e “descondicionamento”. Nunca dizemos aos sobreviventes da poliomielite para “não fazerem nada”. Os estudos de acompanhamento de longo prazo do Post-Polio Institute e de Warm Springs constataram a mesma coisa. Todos os sintomas da SPP, fadiga, dor e fraqueza muscular, diminuem quando os sobreviventes da poliomielite param de se exercitar e seguem a Regra de Ouro:
Se alguma coisa causa fadiga, fraqueza ou dor, NÃO FAÇA! (Ou faça muito menos.)
Infelizmente, aqueles que recomendam exercícios de fortalecimento para sobreviventes da pólio citam as conclusões de meia dúzia de pequenos estudos sobre fortalecimento muscular das pernas, aparentemente sem os terem lido criticamente. As conclusões dos estudos afirmam que os programas de exercícios “levam a ganhos significativos de força”. No entanto, quando se analisam as respostas de indivíduos, os “ganhos significativos de força” são difíceis de encontrar. Pouco mais da metade dos indivíduos dos estudos apresentou um aumento de cerca de 26% na força muscular da parte superior das pernas. Um quarto não apresentou alteração na força, enquanto 21%, na verdade, apresentaram uma diminuição de cerca de 10%. Portanto, quase sempre, os exercícios não tiveram efeito ou, na verdade, diminuíram a força muscular.
Além disso, apenas dois estudos questionaram se o exercício físico afetava a fadiga dos sobreviventes da pólio e sua capacidade de realizar suas atividades diárias!
Em um estudo, a força aumentou 36%, mas a fadiga muscular também aumentou 21%. No outro estudo, embora a força muscular tenha aumentado 30%, não houve melhora na capacidade dos sobreviventes da pólio de realizar atividades diárias, e a fadiga muscular aumentou até 300%!
É preciso questionar qual o benefício de qualquer pequeno aumento percentual na força muscular que não esteja relacionado à melhora da capacidade funcional e que, na verdade, aumente mais a fadiga muscular do que a força. E o que dizer do “tônus muscular”? A maioria das pessoas pensa que tônus muscular significa músculos firmes e com boa forma. Tônus muscular, na verdade, significa que as fibras musculares estão prontas para se contrair. O tônus muscular é perdido quando os neurônios motores são danificados e não conseguem ativar as fibras musculares.
A perda de tônus pode ocorrer quando sobreviventes da poliomielite se exercitam em excesso e os músculos enfraquecem quando os neurônios motores danificados pelo poli vírus falham. Lembre-se de que o pesquisador da SPP, Alan McComas, descobriu que sobreviventes da poliomielite que apresentam fraqueza muscular perdem pelo menos 7% de seus neurônios motores a cada ano.
É por isso que ele concluiu que “sobreviventes da poliomielite não devem se envolver em exercícios fatigantes ou atividades que estressem ainda mais os neurônios metabolicamente danificados que já estão sobrecarregados”. Os músculos dos sobreviventes da poliomielite ficam menores e perdem tônus se forem sobrecarregados, e os neurônios motores que ativam as fibras musculares morrem.
Braços e pernas ficam flácidos devido ao aumento dos depósitos de gordura, não à perda de tônus muscular. O exercício queima gordura e, a princípio, faz com que os músculos aumentem de tamanho. Mas os sobreviventes da poliomielite não querem fibras musculares maiores porque elas “estressam ainda mais os neurônios metabolicamente danificados que já estão sobrecarregados“.
A melhor maneira de prevenir braços e pernas flácidos é parar de usar e abusar dos neurônios motores e seguir a dieta pós poliomielite com alto teor de proteína, baixo teor de gordura e baixo teor de carboidratos. E o que significa “descondicionado”? Muitos sobreviventes da poliomielite acreditam que só existem duas maneiras de viver: usando e abusando excessivamente, ou sendo sedentários e se tornando “descondicionados”.
Descondicionamento é algo que acontece quando astronautas vivem no espaço ou quando você coloca alguém para dormir por semanas, removendo a força da gravidade e causando uma diminuição no volume sanguíneo e na pressão arterial.
O descondicionamento só pode acontecer se os sobreviventes da poliomielite nunca saírem do sofá! No entanto, sobreviventes da poliomielite podem precisar “condicionar” seus corações, especialmente se tiverem sofrido um ataque cardíaco. O “condicionamento cardiopulmonar” utiliza exercícios para fortalecer o músculo cardíaco (que não foi afetado pela poliomielite) e fazê-lo funcionar com mais eficiência.
No entanto, não há benefício em correr em uma esteira ou andar de bicicleta para exercitar o coração se, dessa forma, você estressar e destruir os neurônios motores danificados pelo poli vírus. Alguns sobreviventes da poliomielite podem fazer o condicionamento cardíaco usando seus membros menos afetados, geralmente os braços, em um programa cuidadosamente monitorado de exercícios ritmados e não fatigantes.
Mas, para muitos, esse tipo de exercício não aumenta a frequência cardíaca o suficiente para obter um efeito de condicionamento e leva à fadiga e fraqueza muscular, não podendo ser continuado por mais do que algumas sessões. Cada caso é único e precisa de um bom acompanhamento médico para saber o que é mais adequado para você!
Fonte:
https://polionetwork.org/archive/uculrfa1rcjrgdhbsf9knnkizng8fn