Pólio e a Tendência a Torcer o Tornozelo!
O Que Fazer Quando o Ranger Aparece?
Pergunta de um sobrevivente da pólio:
“Fiz uma artrodese tripla na adolescência para corrigir a tendência de torcer o tornozelo. Hoje, aos 78 anos, percebo que meus ossos rangem ao caminhar — como se a cartilagem tivesse desaparecido. Isso é um problema? O que pode ser feito para ajudar? No geral, estou com boa saúde.”
Resposta da Dra. Marny Eulberg (especialista em pólio e Síndrome Pós Pólio):
Muitos sobreviventes da poliomielite passaram por uma cirurgia chamada artrodese tripla ainda na juventude, com o objetivo de estabilizar o tornozelo e evitar torções frequentes. No entanto, o que nem sempre é mencionado — inclusive por médicos e fisioterapeutas — é que essa cirurgia possui uma taxa de falha de cerca de 50%. Isso ocorre porque a fusão óssea nem sempre é sólida ou pode enfraquecer com o passar dos anos.
As áreas onde os ossos devem se unir são pequenas, e a força contínua da caminhada pode acabar rompendo essas fusões com o tempo. Para que os ossos se fundam, a cartilagem natural precisa ser removida. O ranger que você ouve hoje provavelmente está vindo de articulações vizinhas, que passaram a sofrer mais carga e atrito por conta da fusão feita anos atrás.
Esse ruído pode ser um sinal precoce de artrite por desgaste, algo comum após tantos anos de uso adaptado do corpo. A boa notícia é que nem todo ranger é sinal de urgência. Muitas pessoas convivem com isso por anos sem dor significativa. Só é necessário intervir caso você comece a sentir dor frequente ou instabilidade ao caminhar.
O que pode ser feito?
Caso a dor ou a dificuldade apareçam, você tem algumas opções:
- Conviver com a dor leve, ajustando sua rotina e monitorando os sinais.
- Utilizar uma bengala, um andador ou até uma cadeira de rodas, para aliviar o impacto na articulação.
- Investir em uma órtese personalizada ou bota ortopédica bem ajustada, que oferece suporte e reduz o estresse sobre o tornozelo.
- Considerar uma nova cirurgia de fusão do tornozelo, caso a dor se torne incapacitante. No entanto, essa alternativa exige um período sem apoio na perna operada por até três meses — algo que pode ser bastante desafiador aos 70 ou 80 anos, mesmo com apoio de andador.
Importante:
O acompanhamento médico é essencial para avaliar o seu caso de forma individualizada e tomar decisões seguras. Você já percorreu uma longa estrada com coragem — agora é hora de cuidar dessa jornada com atenção, conforto e qualidade de vida.
Fonte:
Post-Polio Health Vol. 41, No. 1 Winter 2025 www.post-polio.org